terça-feira, janeiro 20, 2009

A indecisão


“Se não fores vais arrepender-te, se fores, podes sempre não gostar e vir embora…” “Ó filho, temos que aproveitar as oportunidades…”, “Quem tudo quer, tudo perde…” É melhor jogar pelo seguro, mas…” “Não sei, tu é que tens que decidir. E ela, já falaste com ela? O que é que ela diz?” “Eu ia, era já agora. Já viste bem as condições… E a evolução e o currículo, não podes deixar escapar uma cena destas…”
São apenas algumas das muitas frases que me tem sido dirigidas ultimamente. Ajudam em quê? Ajudam a incrementar a entropia que me assola a alma, ou qualquer coisa assim. Não sei, não me sai melhor…
Enfim, decidir, dar um passo, dar outro, comer isto ou aquilo, dizer isto ou aquilo, quero ser isto ou aquilo, jogo futebol ou jogo basquet, quero tocar saxofone, não, piano, vou para este curso, vou para aquele, vou de férias para aqui ou para ali, com este ou com aquele, este emprego ou o outro, caso, não caso, caso agora ou mais tarde. Emigro, ou não emigro? Passa-se a vida a tomar decisões.
Será que a opção por um caminho em vez de outro é apenas resultado inúmeros factores, impossíveis de pesar à luz das análises probabilísticas mais avançadas, inerentes a anteriores escolhas e experiências? E no fim, o caminho a seguir seria sempre aquele que acabamos por tomar, é isso? Ou seja, à luz do determinismo, não me devia encontrar agora com tanta impaciência e mau estar. Para quê passar as passas do Algarve (que adequada, esta expressão…). Para quê tanto exercício, dar tanto trabalho a esta balança chamada consciência e carregá-la positiva e negativamente com este e aquele factor?
Acho (ou achava, sei lá o que acho) que sou um gajo não muito ambicioso no que toca a luxos e futilidades: não quero uma casa espectacular, nem um carro que custa um apartamento, por exemplo… Para mim, desde que dê para ter um poiso confortável, poder fazer umas viagens de vez em quando, está tudo bem. Portanto, se calhar não devo decidir pela perspectiva mercantilista da questão, não é?! Ok, então porque é que continuo com tantas dúvidas? Porque se trata de um salto na carreira? Um enriquecimento pessoal e curricular? Uma aventura, que posso depois dizer que já vivi, independentemente do que daí resulte? Uma coisa é certa: se não vou, não sei como é… Se for e o sacrifício (porque o é…) for mesmo insuportável, venho-me embora e assumo o que daí resultar.
Então o que tens a perder? Epah… Que pergunta… Passar uns meses sem: namorada, família, amigos, futebol, música. Só isso!
Depois é continuar no mesmo mundo, em que há pouco mais para além do óbvio. Certo que já me habituei à ideia e ao fim de dois anos nisto, até não se afigura como insuportável. Confesso que há alturas em que me realizo e gosto realmente do que faço. Mas será que é isso que quero fazer o resto da vida? Passar o tempo de um lado para o outro, a enlouquecer com responsabilidades, a gerir o dinheiro dos outros, numa selva de interesses e jogos, onde a palavra conta pouco ou nada e se desconfia até do pedal do travão. A tentar não ser enganado por este e ludibriar aquele. Sim, porque um bom negócio, nunca o é para as duas facções nele envolvidas, tenho dito. Se fosse tudo justo e se uns não saíssem a ganhar mais do que outros, não existiriam as fortunas obscenas que existem, não é? Mas isto é outra discussão. Como diz o outro: “São outros quinhentos paus!” Continuando… Viver agora aqui, depois ali, sem nunca parar em casa. Na melhor das hipóteses, visitá-la ao fim de semana e esperar que os meus filhos ainda se lembrem da minha cara e corram para mim a gritar pai, de braços abertos… Eu vou levantá-los, um em cada braço e perguntar: “Então e como correu a escola esta semana? Foste aos treinos do judo e do futebol. E tu, foste à música, já sabes o solfejo? E a dança?” E eles respondem: “Pai, estamos de férias, esqueceste-te. E eu já não ando no judo, agora estou na natação. E eu já sei tocar aquela do Carlos Paredes que tu disseste, queres ouvir?” Enfim… Já estou a fazer uma longa-metragem, quando no fundo vivemos apenas uma curta… Talvez não devesse pensar tanto e avançar mais instintivamente… O que são 6 meses ou um ano? O que pode significar uma experiência destas na vida de um indivíduo? Será assim tão determinante? Pode ser, pode não ser… As mudanças são sempre para melhor ou pior… (Que cliché, estou a endoidecer, só pode… Vou reler o que escrevi, porque já me perdi. Assim como estou perdido em devaneios e considerações sobre prós e contras e contras e prós…)
Ok, já reli e sinceramente este vómito não me ajuda nada… Só me apetece fugir. Mas fugir para onde? (Lá estou eu…) Com isto tudo ainda não vi a luz no caminho… E por este andar vou ficar perdido ainda mais um tempo. Seja como for, seja qual for a escolha que fizer, vou sempre pensar mais tarde: “E se tivesse feito aquilo em vez disto? Se calhar tinha sido melhor…”

2 comentários:

josé tapadas alves disse...

Eu pouco sei da vida, mas no fundo acho que todos pouco sabemos dela, mas o maior medo do homem é sem dúvida o que não conhece, e o futuro é um dos desconhecidos mais filho da !#$ que para aí anda.
Talvez só saberemos os resultados de todos os nossos actos quando morrermos, e aí já pouco interessa, mas como amigo, cuja ousadia de me auto-intitular como tal espero não ser insolente, desejo, e sei, que no momento certo vais decidir em consciência o que sentes que seja o melhor para ti e para aquela voz irritante que faz essas perguntas todas e realiza essas curtas metragens, e essa decisão, seja por um curto ou longo período de tempo, vai-te dar finalmente algum descanso interior. Num futuro caso sintas que deixaste alguma coisa para trás ou que podias ter realizado este ou aquele sonho e uma decisão não a permitiu olha, agradece-se à vida teres podido sonhar com isso porque se calhar, vai na volta, isso até motivou outros desenvolvimentos pessoais.
Decidas o que decidires sei que vais fazer o mais importante, aproveitar o máximo e da melhor maneira a experiência que dai resultará.

abraço e força nisso

rogerAjacto disse...

Tens razão. Ter oportunidade de escolha já é muito... Não me devia consumir tanto. Vou ver se levo isto mais na desportiva.
Agora essa cena de te auto proclamares meu amigo é que tem de acabar.
Outra cena, temos que arranjar um tempinho para mais uma libertação daquelas.
Entretanto fui ao teu blogue e curti a cena do cardeal...Comentei e tudo, mas é-me difícil abordar certos assuntos... Enfim, sou um bocado panisgas.
Ultras!

Abraço.