sexta-feira, abril 20, 2012

Ultras da Ponte

Afigura-se-me obrigatória a dedicação de umas linhas ao renascimento dos Ultras da Ponte. Se por um lado pouco haverá a acrescentar ao que já foi escrito, dito ou cantado, por outro sinto que, em jeito de agradecimento, reconhecimento e homenagem, devo pelo menos tentar enaltecer ou assinalar o momento que se vive.

“Não há palavras”, foi assim que comentei numa rede social um vídeo da nossa claque no último jogo em casa, que espelhava um pouco do que se passou nessa tarde. Mas há sempre palavras. O que acontece é que será sempre injusta ou até inglória qualquer tentativa de materialização em texto de certas e determinadas sensações ou ocasiões. Portanto, dizer que me senti muito honrado, privilegiado, sortudo, será sempre pouco. Dizer que parecia um puto a receber um presente, que nem sabia como havia de estar, como reagir, que me surgiram forças desconhecidas em momentos de desgaste, que me arrepiei umas quantas vezes numa sensação inexplicável, fininha, pela “espinha” acima, que nos deixa em pele de galinha. Admitir por exemplo, que no final não contive umas lágrimas de emoção, tamanha era a sensação de que estava a experienciar algo único, vivido por poucos e, como tal, valorizável. Enfim, quem me dera apanhar esse momento e emoldurá-lo na alma. Dito assim, já talvez reflicta um pouco do que se passou…

Analisando mais friamente, “mais com a cabeça do que com o coração”, como se diz na gíria futebolística, os Ultras da Ponte representam muita coisa. Representam uma geração, uma cidade, um clube, uma ideologia, uma forma de estar, uma atitude. Manifestações desta natureza, com base em pilares como a fraternidade, a amizade, a união, o companheirismo, alguma loucura (da boa, claro está) e muita vontade, são exemplares e devem ser engrandecidas. Fosse a nossa sociedade em geral movida por tais intentos… Note-se que esta não uma claque impessoal, de um clube grande, em grandes competições, com aspirações enormes. Não, esta é uma claque de amigos do pessoal que está dentro do campo. É a mesma malta que grita por quem corre, que a seguir bebe uma imperial e fala de carros, bola ou música, com os que estão lá dentro. E os que estão lá dentro não são os ídolos inacessíveis e adorados. Não, são os amigos dos que estão lá fora, incansáveis, loucos, vibrantes, a gritar por eles. O que torna tudo isto quase profético, lindo. Não sei se haverá muitos exemplos destes por aí.

Releve-se ainda a carolice e a pro-actividade dos mentores da Instituição, sempre a diligenciar a arranjar novos cânticos e bandeiras e faixas e agora cachecóis. Alguns fazem quilómetros para marcar presença, abdicam de muita coisa, enfim, digna de registo esta entrega. E, já agora, os cachecóis estão o máximo. Parabéns.

“Ultras”, na nossa terra, já se tinha metamorfoseado em muito mais do que uma simples palavra ou termo. “Ultras” atingiu, já há algum tempo, um estatuto de conceito abrangente e metafísico, infinito, inesgotável, porque não. E é sabido que se utiliza ao desbarato: como quem cumprimenta, como quem se despede, como uma interpelação ou exclamação, etc. Talvez alguns nunca tivessem percebido o que é que teria levado a que uma simples palavra atingisse tamanha importância no léxico pontessorense. Agora, a história reescreve-se e entende-se, experiencia-se e vive-se este estado de alma. Alma Eléctrico, Alma Ultra. Ultras?!


quinta-feira, abril 19, 2012

Incerteza

A incerteza no futuro lateja entre os pares. Os lamentos gritados amalgamam-se com as alvitradas soluções, teorias, políticas, filosofias , ideologias, conjecturas, hipóteses, devaneios, às vezes, numa dança obscura, sem música, sem fim, sem luz ao fundo. Inundados por tudo isto, à procura do alheamento a tudo isto, seguimos formigas no carreiro. Seguimos, hipnotizadas, a bater com a cabeça nas que vêm no sentido contrário, sempre na mesma direcção. Interrogações sobre a segurança de outrora que agora já não é nem será, sobre a hipótese do abismo, do salto para fora do tal carreiro, sobre possíveis consequências de actos, atitudes, decisões que, aos olhos de uns tresloucadas, de outros, corajosas. A passagem, consensualmente efémera, tem de ser isto? O carreiro é o que nos resta?