terça-feira, abril 28, 2009

Pedreira da Fazenda, o poema possível


Secular sítio
Que se transforma
Num frenesim de calmaria
Em intervalos de paciência
Se te pudesse aprender
E soubesse falar contigo
Perguntava-te o que já viste
Quantos aqui te alcançaram?
Quantos não te entenderam?
Respeitaram, amaram
Desprezaram, não repararam
Quantos aqui já viram
A tua nudez, a tua inocência?
Quantos já ousaram
Beber-te a sapiência?

Lugar antigo
Que se transforma
Dos elementos abrigo
Nos elementos perigo
Húmido, frio, sombrio
Onde deslizas anelídeo
Onde o procuras ó melro
O teu bico amarelo
Será o seu jazigo
Aqui a metamorfose
É um rio de água nova
E as pedras postas por ela
É a larva que nada, tosca
E o peixe que não a deixa ser mosca
É o girino sem saber quem é
Rã? Sapo? Se houver fé

Mas adivinha-se o feixe de sol
A reflectir partículas de soslaio
Desenham milagrosamente o raio
Trespassando ramos torcidos
Pela vontade de beijar o rio
Sazonalmente despidos
De folhas que flutuam depois
À deriva, na velocidade
Denunciando a intenção
Ainda só sonho, ilusão
Pois na nervosa tranquilidade
Com ligeireza ou dificuldade
Há um objectivo a findar
Há enfim que chegar ao mar

segunda-feira, abril 20, 2009

Pedreira da Fazenda

Pedreira da Fazenda IV - Fotografia de Ricardo Cruz.



Desta vez decidi fazer as coisas na ordem inversa. Ou seja, primeiro vou postar a fotografia e só depois, quando tiver coragem de o fazer, virá o texto.
Talvez desta forma dê para entender melhor o desafio que tenho entre mãos.
Aproveito ainda para solicitar que experimentem também. Seria interessante. Eu sei que não há muita gente a seguir este blog, mas os dois ou três que aqui vêm de vez em quando podiam tentar. Que dizem? Em verso, em prosa, uma única frase, uma única palavra, qualquer coisa...
Obrigado.

terça-feira, abril 14, 2009

E assim foi:

Quando a ideia surgiu, numa conversa de balcão, entre incontornáveis imperiais e tremoços ubíquos, fiquei entusiasmado e pareceu-me um excelente desafio. Aceitei de imediato, embora alguma inquietude me tenha assolado ao dar-me conta da responsabilidade tremenda que acabara de assumir.
Assim, quando o Ricardo me enviou dois trabalhos dele para eu tentar escrever qualquer coisa que lhes emprestasse alguma coisa, já sabia o que aí vinha. E o que aí vinha era arte. “Será que vou ter arte, para a arte que aí vem?” Pensei.
Fiz o download. Abri a fotografia. Já a conhecia e sempre gostei dela… Mas agora tinha que a conhecer ainda melhor, tinha que entrar por ela adentro e entendê-la à minha maneira.
Olhei para ela, observei-a bem, contemplei-a, admirei-a mesmo… Ia tentando adivinhar onde era, ia tentando perceber em que ambiente se inseria. Mais rural, parecia-me. O degrau, o chão que parecia de terra batida… Enfim, tirava elações directamente da noite, que, já agora, me parecia quente. Devia ser Verão. Abri a folha de texto ainda sem ter nada pensado. Estava perante a mesma, a tentava decidir como e o que escrever…
Enfim, não foi nada fácil, mas nem só de coisas fáceis se faz a existência e não é por elas que se reza.
De repente identifiquei três personagens principais: a porta, a luz e a noite… A partir daí decidi assumir o papel de observador dirigindo-me directamente à luz, que assumiu então relevo na estória (ou história?) e se tornou minha interlocutora. Depois a porta como sua adversária, mais tarde sua cúmplice e a noite que as envolvia. Assim nasceu o texto abaixo. Achei interessante explicá-lo, contextualizá-lo… Só naquela.
NOTA: Enquanto o escrevia estava a curtir, assim que acabei achei que tinha ficado mais ou menos e quando o reli achei mesmo fraquinho, muito aquém… Depois confortei-me: “Ok. É normal. Se uma imagem vale mais de mil palavras e eu só escrevi 316…”